## **Capítulo 9 – Ecos de Sangue**
A tempestade que caía sobre a Floresta Cinzenta havia cessado ao amanhecer, mas a terra ainda estava encharcada pelo sangue e pela chuva da noite anterior. Entre as árvores negras, uma névoa espessa rastejava pelo chão, cobrindo os rastros da batalha que ocorrera poucas horas antes.
Azazel permaneceu em silêncio diante do corpo dilacerado da besta mágica que acabara de consumir. A carne da criatura já não existia, os ossos estavam partidos, e seu coração havia sido devorado com precisão cirúrgica. Ele se ergueu lentamente, o olhar fixo no nada, os olhos vermelhos e intensos como carvões incandescentes.
"Eu ainda sou fraco…" murmurou.
Sua voz se perdeu na névoa.
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A caravana que seguia em direção ao norte havia parado num pequeno acampamento improvisado. As fogueiras crepitavam timidamente, enquanto soldados e cavaleiros se revezavam na guarda. Muitos haviam notado a ausência de Azazel durante a noite, mas ninguém ousou questionar abertamente. Havia algo em sua presença que causava desconforto até nos mais endurecidos guerreiros.
Lizzie o viu surgir entre as árvores, envolto em seu manto escuro, os cabelos grudados ao rosto pálido pela umidade. Correu até ele com alívio nos olhos.
"onde você esteve?"
"Caçando," respondeu sem emoção.
Ela fitou suas mãos cobertas de sangue seco, mas não disse nada. Havia aprendido a não perguntar demais.
"Vamos comer algo. O grupo partirá em uma hora."
Azazel assentiu. Sentia fome — mas não de comida.
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Durante o percurso, o silêncio imperava. Os cavalos marchavam em fila, os soldados mantinham-se alertas, e os magos observavam o ambiente com olhos treinados. No centro da comitiva, o **mago de nível 3, Maedhros**, cavalgava em silêncio, ocasionalmente lançando feitiços de detecção no caminho. Seus olhos caíram sobre Azazel mais de uma vez, com uma inquietação contida.
Ao anoitecer, um novo acampamento foi erguido.
Azazel sentou-se distante dos outros. Pegou um pedaço de carne seca da mochila e mastigou lentamente, observando os soldados conversando em voz baixa. Podia ouvir tudo: cada palavra, cada respiração, cada batida de coração.
"Ele não dorme," comentou um dos cavaleiros.
"Dorme com os olhos abertos, talvez," respondeu outro.
"O garoto é esquisito. Muito esquisito."
Ele ignorou.
Seus sentidos estavam cada vez mais aguçados. Conseguia farejar emoções. O medo tinha um cheiro metálico, o desprezo era agridoce, a indiferença era fria como cinzas. E aquilo o irritava.
No fundo da mente, **a Esfera Mental** girava lentamente, expandindo-se. A energia mental gerada a partir do cérebro da última besta mágica ainda estava sendo processada, mas ele já sentia os efeitos. Sua capacidade de foco era sobre-humana. Sua memória, quase perfeita. Ideias complexas surgiam com facilidade, e pensamentos estratégicos se entrelaçavam naturalmente.
Ele fechou os olhos e mergulhou em seu próprio mundo.
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Na manhã seguinte, a caravana cruzou uma zona de penhascos — o **Desfiladeiro dos Sussurros**. Era um lugar evitado por viajantes comuns, conhecido por atrair feras famintas e bandidos exilados. Mas Maedhros não hesitou. O tempo estava se esgotando, e o continente norte ainda estava longe.
"Preparem-se," anunciou ele. "Algo nos observa."
Azazel abriu os olhos no mesmo instante.
"Está vindo do sul," murmurou.
Maedhros se virou lentamente.
"Como você sabe?"
Azazel apontou para o céu.
"Os pássaros estão voando para o norte. E o silêncio é denso demais. Nem os insetos se movem."
Maedhros sorriu de canto. Pela primeira vez, algo além de frieza brilhou em seus olhos: interesse genuíno.
"Você tem instintos perigosos, garoto."
"Eu sei."
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Eles surgiram como sombras entre as pedras. Eram **bestas mágicas de nível 1 – camada final**. Quatro delas. Corpos esguios, pelagem negra, olhos de âmbar. Rápidas como o vento e silenciosas como predadores noturnos.
O ataque foi imediato.
Dois cavaleiros foram dilacerados antes que pudessem erguer as espadas. Um dos magos de nível 2 lançou uma barreira de vento que impediu o avanço de uma das feras, mas as outras três saltaram pelas laterais.
Maedhros reagiu com precisão letal. Um único gesto e sua magia de compressão gravitacional esmagou a criatura mais próxima como uma lata de ferro. Sangue e ossos voaram.
Azazel, por sua vez, **não recuou**.
Avançou na direção da segunda fera, desviando com agilidade sobre-humana. As garras passaram raspando por seu rosto, mas ele girou o corpo, enfiando os dedos em uma fenda entre as escamas da criatura. **Seu braço afundou no peito da besta**, que rugiu em agonia.
A energia de sangue começou a fluir de imediato, puxada pelo Dantian.
"Mais…" pensou. "Mais força…"
Com um urro inumano, puxou o coração da criatura para fora.
A fera caiu morta, e Azazel não hesitou: ajoelhou-se, cravou os dentes na carne ainda quente e começou a devorar.
Soldados recuaram, horrorizados. Lizzie se virou, incapaz de ver.
Mas Maedhros observava em silêncio.
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Quando a batalha terminou, das quatro feras mágicas, apenas uma havia sobrevivido tempo suficiente para fugir — gravemente ferida por um feitiço flamejante.
Azazel estava coberto de sangue, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade perturbadora.
O Dantian borbulhava.
A energia líquida girava mais rápido, densificando-se.
Seu corpo, após consumir carne e ossos, começou a reforçar os tecidos internos. A força muscular crescia, e a resistência óssea aumentava gradativamente.
A **Camada Inferior** estava prestes a avançar para o **nível intermediário**.
Na esfera mental, os pensamentos se multiplicavam.
Ele podia prever padrões de movimento.
Calcular rotas de fuga.
Antecipar feitiços antes de serem lançados.
"Você... não é humano," murmurou um dos soldados, se afastando.
Azazel não respondeu.
Maedhros, por sua vez, aproximou-se.
"Está na hora de conversarmos, Azazel."
Ele ergueu os olhos lentamente.
"Sobre o quê?"
"Sobre o que você é. E sobre o que pode se tornar."
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Mais tarde naquela noite, sentados próximos ao fogo, Maedhros tirou um pequeno frasco do bolso e o lançou na direção de Azazel.
"Sangue de fera mágica purificado. Classe dois. Beba."
Azazel o encarou, desconfiado.
"Por quê?"
"Quero testar seus limites. E descobrir até onde você consegue ir antes de se romper."
Lizzie se aproximou rapidamente.
"Não! Ele é só uma criança!"
Azazel olhou para ela.
"Eu não sou mais uma criança."
E bebeu.
A substância desceu como fogo líquido, queimando suas veias, corroendo por dentro. O Dantian reagiu com violência, absorvendo e processando o líquido. Por um momento, ele sentiu que seu corpo ia explodir.
Mas então, **algo dentro dele mudou**.
Uma pequena quantidade de sangue purificado foi absorvida pelo núcleo da energia líquida, que se adensou e adquiriu um tom rubro-escuro.
A energia vital dentro dele **aumentou**.
A dor desapareceu.
E ele sorriu.
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Naquela noite, quando todos dormiam, Azazel se afastou do acampamento e encontrou um lago escondido entre as pedras. Sentou-se diante da água e contemplou o reflexo distorcido de seu próprio rosto.
"Eu ainda sou fraco."
Sua voz ecoou suavemente.
"Mas não por muito tempo."
A noite era fria, mas ele sentia calor. **A energia do Dantian agora formava um redemoinho estável, vibrante, capaz de alimentar seu corpo com vitalidade constante**. Seus músculos estavam mais densos. Sua mente, mais afiada.
Ainda longe de rivalizar com um mago de verdade.
Mas já era superior a qualquer cavaleiro comum.
E isso era só o começo.
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###**Estado Atual de Azazel
* **Dantian de Sangue**: Estágio Líquido (mais denso, estável)
* **Corpo**: Camada Inferior – **Nível Intermediário**
* **Mente**: Mais expandida; percepção e antecipação aumentadas
* **Combate**: Capaz de derrotar feras mágicas de nível 1 na camada final.