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Chapter 12 - Capítulo 11: O Sussurro Dos Ossos

## **Capítulo 11 – O Sussurro dos Ossos**

O silêncio após a tempestade era estranho. Profundo. Quase respeitoso.

Azazel dormia sentado sobre uma pedra coberta de gelo, os braços cruzados, a respiração controlada. A aura ao seu redor estava calma, mas qualquer um com sensibilidade mágica perceberia: **aquilo era o olho de um furacão**. Uma calmaria ameaçadora, que carregava a tensão de algo prestes a explodir.

Ao longe, a aurora boreal ainda dançava, mas agora suas cores pareciam mais densas, vibrando em tons rubros e violetas, como se reagissem à presença dele. O céu não o ignorava. O próprio mundo parecia observá-lo.

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No acampamento, Maedhros organizava documentos, mapas e cristais de registro mágico sobre uma mesa improvisada feita de placas de ferro conjuradas por cavaleiros. O mago de nível 3 estudava as linhas de energia da região. Mas agora, as leituras estavam distorcidas.

Picos de magia selvagem, pulsações de energia espiritual ressoando com ecos antigos. Como se algo ali estivesse **acordando**. Ou como se reagisse a **Azazel**.

"O norte está respondendo a ele," murmurou para si mesmo, com um leve sorriso nos lábios.

Lizzie, do outro lado do acampamento, sentada diante de uma fogueira que lutava contra o vento gélido, mantinha o olhar fixo no filho. Ele não havia dito uma única palavra desde o combate na torre ancestral.

Ela não se preocupava com o silêncio.

Se preocupava com **o que se movia dentro dele**.

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Três dias depois, a comitiva marchava em direção ao interior da Fronteira Gélida. A neve, antes apenas espessa, agora cobria montanhas inteiras. Cada passo exigia esforço. O frio parecia drenar não só calor, mas também força de vontade.

E então chegaram ao **Vale dos Ossos Antigos**.

O terreno ali era uma cratera vasta, cercada por picos irregulares e pedras negras. Ossos colossais juncavam o solo — alguns maiores que carruagens inteiras. Eram os restos de **criaturas de eras esquecidas**. Feras tão grandes que suas costelas formavam túneis, e seus crânios, pequenas cavernas.

Azazel desceu do cavalo. Caminhou em silêncio até o centro do vale, e ajoelhou-se diante de uma ossada parcialmente enterrada. Uma vértebra maior que ele emergia da neve, coberta por musgo congelado e fragmentos de gelo.

Ele estendeu a mão e tocou o osso.

E então **viu**.

Gritos. Fogo. Correntes de magia antiga. Uma batalha que não era dele, mas que ardia em sua mente como se fosse uma lembrança esquecida.

Viu lanças de luz, chamas negras, garras gigantescas enfrentando magos com olhos que brilhavam como estrelas.

Sentiu o medo. O desespero.

E por um breve instante, **algo o encarou de volta**.

Um olho sem pupila, sem forma — uma consciência pura e insondável. Um olhar que **o reconheceu**.

Azazel ergueu os olhos.

"Esse lugar foi um cemitério," disse Maedhros, se aproximando em silêncio. "Aqui, magos de nível 8 enfrentaram bestas que ameaçaram romper os limites da existência. Dizem que até um mago de nível 9 passou por aqui... e nunca voltou."

Azazel não respondeu. O dedo ainda sobre o osso. A energia ali ainda viva, ainda pulsante.

"Eles venceram," continuou Maedhros. "Mas selaram os restos. Porque temiam que um dia... **alguém como você aparecesse**."

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O acampamento daquela noite foi montado nas ruínas de uma fortaleza esquecida no limite do vale. As paredes quebradas e colunas tombadas serviam como abrigo parcial contra o vento. Mas nada impedia o frio de se infiltrar nos ossos.

Os soldados estavam tensos. Alguns oravam. Outros apenas tremiam.

Azazel, porém, vagava sozinho pelos corredores gelados da fortaleza. Suas pegadas na neve eram leves, silenciosas, mas deixavam uma trilha de calor. Ele parou diante de uma parede onde símbolos haviam sido esculpidos com precisão — **runas de sangue antigo**, quase apagadas pelo tempo.

Ele encostou a palma da mão na pedra.

E então ouviu.

Não com os ouvidos.

Com a mente.

"Você... é aquele que devora."

A voz era seca, gutural, e soava **dentro** dele. Uma entidade trancada abaixo das pedras. Algo que conhecia seu nome, mesmo sem saber seu rosto.

Azazel não se afastou.

"Você está preso."

"Por enquanto."

A pedra tremeu levemente sob sua mão.

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Na manhã seguinte, Maedhros reuniu os líderes. Precisavam cruzar o vale e chegar à **Montanha da Boca Partida**, onde uma antiga torre de estabilização mágica existia. Mas Lizzie o interceptou antes da partida.

"Ele está ouvindo vozes," disse ela.

Maedhros a encarou.

"Não são vozes comuns. São fragmentos de um mundo esquecido. Ecos de poder que apenas ele pode compreender. Ele está... despertando."

"Ele ainda é meu filho."

Maedhros hesitou por um momento.

"Talvez."

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Durante a travessia do vale, o clima mudou subitamente.

A neve parou.

O vento cessou.

E um silêncio absoluto dominou o mundo.

Então, veio o som.

**Estalos secos.**

Como gelo se partindo sob pressão. E então, **a terra tremeu**.

Do interior das costelas de uma criatura colossal fossilizada, algo se ergueu.

Um ser esquelético, recoberto de placas ósseas negras e dentes torcidos. Magia antiga e corrompida emanava dele em ondas escuras. Os olhos eram buracos de puro vazio, de uma fome **sem propósito**.

**Aberração Mágica Fossilizada**.

Uma criatura sem classificação. Um erro do tempo, nascida da união de restos mágicos e selamentos incompletos. Imortal, irracional, **impossível de matar por meios comuns**.

"Todos, recuem!" gritou Maedhros. Os cavaleiros ergueram barreiras.

Mas Azazel já caminhava em direção ao monstro.

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Ele não correu.

Apenas caminhava. Cada passo pesado, firme. O Dantian fervia, e sua Esfera Mental queimava. Havia algo naquele combate que o chamava. Algo... **familiar**.

A aberração lançou uma rajada pútrida de energia. Um sopro de corrupção que desfez parte das pedras ao redor.

Azazel saltou, o punho envolto em névoa de sangue, e golpeou o crânio da criatura com força brutal. Ela caiu, mas levantou-se no instante seguinte, como se não sentisse dor.

Ele rugiu.

E nesse rugido, **rompeu mais uma camada da mente**.

Um brilho surgiu em sua testa — uma linha tênue, rubra, como uma cicatriz de energia.

Era o sinal do colapso parcial entre o corpo e a Esfera Mental. Uma mutação sutil. Irreversível.

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A luta foi selvagem.

Chutes, mordidas, golpes diretos. Azazel sangrava, mas sorria. Cada ferida só aumentava o fluxo de energia. Cada gota de sangue alimentava seu Dantian.

Ele rasgava as placas ósseas com as próprias mãos.

Até que, num golpe final, cravou o braço no tórax da aberração e arrancou o que parecia um núcleo de energia espiritual fossilizado — negro e brilhante como obsidiana.

E então, o **devorou** ali mesmo.

Sem hesitar.

Sem cerimônia.

Comeu a criatura **por completo**.

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Quando o silêncio voltou, o vale parecia menor. Mais frágil.

A comitiva se aproximou com cuidado. Ninguém ousava olhar Azazel nos olhos.

Ele estava de pé, respirando lentamente, o corpo coberto por sangue e fragmentos de ossos.

Maedhros observava à distância, os olhos fixos na mutação em sua testa.

"Ele está fundindo suas três fontes de poder," disse. "Dantian, corpo e mente... em um só fluxo."

"Isso é monstruoso," murmurou Lizzie.

"Ou... é a evolução máxima de um ser com um propósito desconhecido."

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Mais tarde, sozinho no topo de uma torre caída, Azazel olhava o céu.

As estrelas pareciam mais próximas.

E então ele **as ouviu**.

Sons. Vozes. Chamados.

"Azazel..."

"Devore..."

"Desperte..."

Ele não sorriu.

Apenas fechou os olhos.

E aceitou.

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## **Estado Atual de Azazel**

* **Dantian de Sangue**: Estágio Líquido – 70% até o estágio sólido. Após devorar o núcleo espiritual fossilizado, sua densidade aumentou.

* **Corpo**: Camada Intermediária – Pressão interna elevada, mas suportável. Início de mutação física (linha carmesim na testa, resistência muscular aumentada).

* **Mente (Esfera Mental)**: Expansão acelerada – Início de comunicação com entidades ancestrais. Fragmentos de consciência externa reconhecendo sua existência.

* **Combate**: Derrotou e devorou uma **aberração mágica fossilizada**, criatura tida como impossível de destruir por magos comuns.

* **Limite Atual**: Equivalente a um mago de nível 3 no segundo estágio do coração em resistência e instinto. Supera a maioria dos cavaleiros da Terceira Espada no nível 2.

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